quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A volta da Geringonça nordestina


Tribuna do Norte, 26/08/2009


“A vida não me chegava pelos jornais/ nem pelos livros/ vinha da boca do povo na língua errada do povo/ língua certa do povo”... O trecho do poema “Evocação do Recife” de Manuel Bandeira, abre a segunda edição da obra “A Geringonça do Nordeste – a fala proibida do povo” do professor Geraldo Queiroz sobre a vida e obra de Clementino Câmara, o escritor e professor autodidata que pensava anos luz à frente de seu tempo.
A primeira edição - fruto da pesquisa de mestrado de Geraldo – foi lançada em 1989, há 20 anos, e faz um ano que a obra recebe adaptações, imagens e diálogos com escritores e intelectuais.
A paixão pela profunda pesquisa surgiu quando Geraldo se deparou com a história de Clementino - ainda na década de 80 - e encontrou no Arquivo Público do Estado, o livro (ainda inédito)“Geringonça do Nordeste”, censurado pelo governo. “Devido às circunstâncias da época – de transição ente o regime democrático e a implantação em 1937 da ditadura do Estado Novo no Brasil, conclui-se que o trabalho fora censurado”, contou Geraldo Queiroz em sua residência à reportagem do VIVER.A censura e tudo o que envolveu a obra e a vida de Clementino é o principal enfoque do livro editado pela primeira vez em 1989 pela Editora Clima e Fundação José Augusto e agora é revisitada em segunda edição por Queiroz.A obra já era grandiosa em sua essência na primeira edição e nesta que será lançada até meados de novembro traz depoimentos de escritores como Nei Leandro de Castro, Oswaldo Lamartine, Nelson Patriota, entre outros. Além de imagens de Clementino durante sua vida, cartas escritas para suas filhas e amigos e um perfil emocionado escrito por sua mãe. Ou seja, o livro vem acrescido de duas partes, a primeira é o texto introdutório escrito pelo jornalista Woden Madruga e segundo é o anexo “diálogos em torno do tema”, numa coletânea de mensagens enviadas a Geraldo, além de matérias publicadas em jornais, revistas e outros meios de comunicação. Considerada pelo escritor Moacy Cirne como um livro fundamental para se conhecer o Rio Grande do Norte, a Geringonça percorre a trajetória de Clementino junto ao movimento intenso revolucionário que o País vivia na época. “Naquela época tudo era motivo de censura. E durante as pesquisas consegui fazer uma montagem de diferentes épocas do pensamento dele, engendrando com o movimento do País num dos seus mais delicados momentos. Talvez por isso, ler a Geringonça seja uma maneira de rever a própria história atual, conhecendo o nosso passado”.

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