quinta-feira, 3 de setembro de 2009

“Resina” reúne poemas de Diva


Tribuna do Norte,03/09/2009


Foi do pequeno e profundo poema, sem nome, que Diva Cunha batizou seu quinto livro de poesia, “Resina”. A obra traz passagens do cotidiano e poemas escritos para os mestres João Cabral de Melo Neto, Manoel Bandeira, Clarice Lispector e Cecília Meireles. Além do livro novo contendo 80 poemas, “Resina” reúne seus últimos livros de poesia, já esgotados no mercado, “Canto de página”, “Coração de lata”, “Paisagem” e “Uivando para a lua”. “Armadilha de vidro” não está publicado pois ainda existe nas livrarias brasileiras. O lançamento acontece hoje, às 19h no Praiamar Natal Hotel durante o Seminário Nacional Mulher e Literatura.
“Quando Conceição Flores me comunicou sobre a homenagem eu pensei de imediato em publicar um novo livro. Peguei todos os caderninhos, pedaços de papel e tudo o que eu tinha de poemas espalhados e passei a trabalhar um por um”, lembrou Diva sobre a gênesis da obra. Ela pensa como João Cabral de Melo Neto, que acreditar ser apenas 5% de inspiração e 95% de trabalho. Com essa equação, Diva uniu mais de 100 poemas e lapidou todos até chegar ao resultado de “Resina”. “O poeta é como um jardineiro. Ele precisa podar as rosas até que elas fiquem preparadas para a colheita”, contou.Nesse processo lento, a inquieta Diva se deparou com dois caminhos tomados por seu livro. De um lado o cotiano cru, a cidade, suas memórias, o som das fábricas e a realidade e do outro o livro travou um diálogo com seus mestres chamado num subcapítulo intitulado “Travo e Paixão”, reunindo 26 poemas. Entre eles pérolas de desaforos jogados aos seus mestres como este chamado “Cabralinas”. “João Cabral/sua poesia/ me dá coceira/sou mais/o seu avô/Manuel Bandeira”.A brincadeira com seus mestres é, segundo a escritora, uma forma de colocar no papel a inveja de seus talentos. “Travei diálogos como uma discussão, uma paixão. Os poemas saíram como meta poesias. Tenho uma paixão enorme por Manoel Bandeira, dele como poeta, como cronista, antologista e também como ser humano. Quis no livro colocar esse meu amor de uma forma ora brincalhona e ora sensata”, disse. Os poemas foram escritos de maneira doce e irreverente quando a construção remete à diferentes obras, inclusive de Clarice, como “A Paixão segundo G.H” no poema intitulado “Inimiga Íntima”. “Onde se meteu/ pequenina e astuciosa/pétala movente/em marrom antigo moldada?/ que levava nas asas/no dorso úmido/ na antena que captou/os passos pela casa?”João, Manuel, Cecília, Clarice e DivaUma das delicias do livro de Diva é esse encontro entre seus mestres e suas referências. Além dos poemas existenciais que tocam de uma maneira forte o inconsciente, o encontro de Diva com João, Manuel, Cecília e Clarice é algo além. E é dentro desses poetas que Diva busca oxigênio para entremear suas próprias concepções de mundo. Ela lembra que João Cabral mexe muito com sua história. A dificuldade de ler suas obras e “digeri-las” abriu horizontes, inclusive para a elaboração de sua tese de doutorado sobre a Revista de Cultura Brasileña criada pelo próprio escritor de “Morte e Vida Severina”. “Posso dizer que João Cabral é como uma força pulsante. É dele que bebo minha água e é dele também que tenho muita raiva por ser tão complexo”.Segundo Diva em todo esse tecer de ideias reunindo os poetas, suas leituras e vivências, sua poesia tenta captar as mínimas coisas da vida. “Se sou distraída para assuntos práticos, observo a beleza e a leveza da vida em pequenos detalhes, me atento para isso. E junto a isso somo o que Bandeira dizia sobre poesia não ter hora. Não se espera a poesia, ela chega, assim como as borboletas e as formigas”, finalizou, comentando que a poesia será viva para sempre enquanto existir mundo. Além dos poetas citados nos livros, Diva lembrou que suas inspirações vieram também de Luis Carlos Guimarães – seu padrinho, quem apresentou os primeiros livros para ela enquanto menina -, Zila Mamede, Homero Homem, entre outros. Diva lançará sua obra hoje no Seminário Nacional Mulher e Literatura e também no dia 26 de setembro durante o Festival Literário de PIPA, a FLIPA que acontecerá durante os dias 24, 25 e 26 de setembro.

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