terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um livro sonoro brasileiro


Tribuna do Norte, 1º/09/2009


Um fagote rasgando a poesia abre o livro sonoro de Dácio Galvão. São textos que ultrapassam a fronteira entre a música e a poesia e engendram-se nos acordes dissonantes da sanfona de Dominguinhos e a voz grave do imortal Zé Celso Corrêa. E vai além.. reúne 80 músicos de várias partes do Brasil traçando um desenho da cor do mapa do Brasil, étnico e profundo.

Poemúsicas será lançado hoje, às 19h30 no Budda Pub, em Ponta Negra. Sobre a obra, Dácio conversou com o VIVER contando que o projeto começou a ser elaborado há 10 anos, inspirado em outras realizações nesse campo. Ele lembra que esta quebra das fronteiras entre poesia e música não é novidade, desde o século XII a melhor poesia que se fez no planeta foi a provençal lá no sul da França e depois as vanguardas artísticas emblematizaram isso. “O Tropicalismo fez um trabalho muito calcado na sonoridade. Alguns músicos fizeram isso, o próprio Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção quem musicalizou Haroldo de Campos. E antes mesmo, um grande influente é Mallarmé, grande poeta francês que entendeu há muito tempo que o livro poderia e deveria dialogar pelas searas musicais, com as partituras. Vejo esse projeto como a extensão do meu trabalho impresso e ao mesmo tempo como um livro sonoro”, contou Dácio. Na obra, o sertão e o litoral se complementam, quando músicos com identidades mais regionalistas dialogam diretamente com músicos que bebem de fontes contemporâneas universais. Segundo o próprio autor, não dentro de uma visão regionalizada, mas dentro de uma visão que tenta desterritorializar. “Ao mesmo tempo que circunscreve estes dois ambientes, o texto tenta transgredir o regionalismo. Você tem a fala de Oswaldo Lamartine dialogando com a guitarra distorcida de Jubileu Filho. Nem o significado simbólico da voz de Oswaldo perde no conteúdo no qual ele sempre buscou, o sertanismo. Como também não perde a guitarra pop a la Jimi Hendrix de Jubileu Filho. Tudo isso dentro de uma modalidade sonora indígena que é coco. Todas as modalidades de ritmo somos nós”.Concreta, discreta e infinita“Ao fundo/ o ronco monótono do mundo/ e eu ouvindo sua mistura de paisagens salgadas/luz calma da cidade e vozes sertanejas/ Queimando em palavras o que eu sinto/sei que miragens de músicas e imagens/ ainda ardem em nossas casas...O poema de Fausto Nilo – compositor consagrado brasileiro, gravado por mais de 40 músicos, fez os versos do poema citado acima especialmente para o disco/livro de Dácio Galvão. O poema entrou como pós fácio da obra, uma raridade. Por falar em palavras, o livro sonoro é delicioso por isso, você pode devorá-lo de diferentes maneiras. Ao abrir o encarte surpresas em forma de imagens e textos explicativos e poéticos alçam vôos na imaginação. “O trabalho impresso foi feito como um livro. Vejo como uma convergência de várias linguagens neste trabalho. Da palavra experimentada cantada por Naná Vasconcelos e Arnaldo Antunes, com um certo recaimento, num lirismo épico na voz de Zeca Baleiro, no cancioneiro com Ná Ozetti e Mônica Salmaso, no regionalismo do xote de Waldonys, na canção dissonante de Dominguinhos, no Free Jazz que rola com Dominguinhos e o sax de Proveta. O disco nada mais é do que a diversidade brasileira”, contou Dácio na tentativa de explicar sua própria obra prismática.A própria linguagem fotográfica, só veio a dialogar. “Não foi um disco trabalhado para ser vendido como um cd de um letrista ou poeta. Ele é resultado de um projeto que foi se estruturando aos poucos. Várias músicas dessas já haviam sido veiculadas em outros discos. Aos poucos fui descobrindo que as letras e as músicas criaram uma unidade sonora e textual homogênea. As figuras que participam como Zeca Baleiro, Mônica Salmaso e o próprio Zé Celso Martinez Corrêa, partiu de uma sintonia com suas obras. Ninguém foi contratado para isso, mas é uma agregação idéias”. O projeto gráfico também aconteceu dessa maneira. Dácio convidou o design Afonso Martins, que trabalhou ouvindo música por música, num processo criativo denso. O lançamento de “Poemúsicas” acontece hoje, às 19h no Budda Pub (Av. Engenheiro Roberto Freire) e terá a presença de um Dj tocando as 19 faixas do disco. Além de uma projeção com imagens do projeto gráfico do livro sonoro. ServiçoPreço do Poemúsica: R$ 15 reais. Será vendido em livrarias e sebos da cidade.

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